sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Texto do PPP

Tema Geral: A avaliação dentro do processo ensino-aprendizagem

Tema específico: O uso da prova como instrumento avaliativo em classes de 3ª e 4ª séries no ensino fundamental.

Justificativa:

O interesse em centrar esse estudo surgiu da necessidade de conhecer como acontecem as práticas avaliativas nas salas de 3ª e 4ª séries do ensino fundamental e como elas colaboram com o êxito ou fracasso escolar dos alunos.

Levando em conta meu histórico escolar e situações vividas e presenciadas na sala de aula, onde a avaliação selecionava e rotulava os melhores e os “menos capazes” da sala, medindo a capacidade do aluno através de suas notas e, sabendo agora que a avaliação vem sendo discutida a nível teórico por alguns autores, no entanto, as práticas de avaliação existentes na maioria das escolas continuam intocáveis, sem qualquer ação reflexiva que gere transformação.

Considerando a importância da avaliação e suas contribuições para o desenvolvimento do aluno e seu êxito ou o fracasso escolar, é que senti a necessidade de buscar, conhecer e analisar tais práticas avaliativas.

Sendo parte integrante do processo ensino-aprendizagem a avaliação pode ser ferramenta importante em sala de aula, desde que o uso desse instrumento não seja só para quantificar resultados, já que, historicamente é sabido que as formas de avaliação estiveram ligadas a questões de caráter mais quantitativos do que qualitativos, ou seja, a preocupação excessiva com a nota, é exatamente o que acontece na maioria das vezes na aplicação das provas como instrumento avaliativo, o aluno passa a se preocupar em decorar o assunto para alcançar uma nota.

Na verdade, acompanhando esta prática, percebemos que este ‘estudo’ é fictício, pois tem uma intencionalidade enviesada, uma vez que o aluno não está se dirigindo ao objeto para compreendê-lo nas suas múltiplas e complexas relações, mas normalmente está buscando uma estratégia para obter a nota, sendo muito comum o recurso à memorização mecânica. Evidência disto é que, logo depois da prova, o aluno ‘esquece’ quase tudo. (VASCONCELLOS, 1956:141).

Portanto, precisamos buscar caminhos que efetivamente mobilizem o educador para uma modificação de sua ação, propondo e construindo com eles um processo coeso, contínuo, onde o processo ensino-aprendizagem realmente possa integrar a avaliação, formando uma proposta de ação educativa coerente.

Problema:

Em que a prova tem contribuído para o processo de aprendizagem em salas de 3ª e 4ª séries no ensino fundamental?

Problemática:

Temos percebido projetos interessantes desenvolvidos nas escolas, mas com práticas avaliativas que não traduzem os avanços dos trabalhos pedagógicos realizados. Analisando as propostas pedagógicas e os planos escolares, pode-se afirmar que esse conceito de processo de avaliação encontra-se presente na maioria deles.

Surgem então, questões pertinentes que nos inquietam devido a complexidade que possui a sistemática do processo avaliativo, como por exemplo: quais os efeitos que a prova tem causado em salas de 3ª e 4ª séries do ensino fundamental? A avaliação pode ser um canal de transformação do educando? Como se dão os processos avaliativos?

A sistemática da avaliação escolar, apesar de estar inserida no processo de ensino-aprendizagem, ainda se processa de maneira mais quantitativa, valorizando a atribuição de notas e conceitos pré-definidos, estamos em um momento histórico onde se valoriza a seletividade, o desempenho classificatório, utilizando notas obtidas como processo de construção de aprendizagem do indivíduo.

Os processos de avaliação e suas necessidades de mudanças há muito tempo vem sendo discutido por vários autores como: Cipriano C. Luckesi, Celso dos S. Vasconcellos, Pedro Demo, entre outros.

Segundo Vasconcellos, a tarefa do educador não é ficar discutindo aprovação-reprovacão e sim aprendizagem efetiva, desenvolvimento humano, onde todo ser humano é capaz de aprender, se não está sendo, tem que ser ajudado e não rotulado ou excluído.

Entretanto, após as observações feitas nas salas de aula de 3ª e 4ª séries do ensino fundamental, nós observamos as dificuldades dos educadores em buscarem inovações em relação à prática avaliativa em prol do desenvolvimento do educando.

Fundamentação Teórica:

Cipriano Carlos Luckesi faz várias críticas ao atual sistema liberal conservador, colocando que o processo avaliativo utilizado hoje está obrigatoriamente a serviço de uma pedagogia dominante, é o que ele define como “autoritarismo da avaliação” onde a sistemática da avaliação utilizada nos processos de ensino aprendizagem tem cada vez mais contribuído para a manutenção da sociedade liberal conservadora. O autor enfatiza a prática da avaliação escolar como um ato puramente classificatório e seletivo e não um “diagnóstico” que deveria ser constitutivamente.

Luckesi analisa que a prática dos exames escolares tem por objetivo julgar, aprovar ou reprovar. Pais, educadores e estudantes têm suas atenções voltadas para os resultados das provas e certificações. Assim, o medo, a ansiedade e a tensão, costumam fazer parte do clima da sala de aula, ele ressalta que a atual prática de avaliação escolar tem estado contra a democratização do ensino, na medida em que ela não tem colaborado para a permanência do aluno na escola.

O autor considera ainda o ato de avaliar como um “ato de amor”, que devido as nossas experiências histórico-sociais e pessoais temos muitas vezes dificuldades em compreendê-lo e praticá-lo, mas que o convite a esta prática se estende a todos nós educadores, mostrando que a avaliação escolar deve consistir, portanto, não em classificação ou seleção, mas em diagnosticar os avanços da aprendizagem, permitindo identificar o ponto de partida para novas ações em relação o ensino-aprendizagem.

...os sistemas de exames, com suas conseqüências em termo de notas e suas manipulações, polarizam a todos... De fato, a nossa prática educativa se pauta por uma “pedagogia do exame”. Se os alunos estão indo bem nas provas e obtém boas notas, o mais vai...(LUCKESI, 2001:21)

A avaliação, segundo este autor, não deve ser uma ação puramente mecânica e em prol do sistema social vigente, mas uma atividade racionalmente definida, dentro de um encaminhamento político e decisório a favor da competência de todos para a participação democrática da vida em sociedade.

A professora e escritora Jussara Hoffmann por sua vez, em se livro Avaliação na pré-escola, 1996 procura alertar os educadores, enfatizando que a atribuição de notas e médias aos alunos adquiria uma função meramente classificatória. Destacando entre os educandos quem é melhor.

Tendo como a finalidade dos processos educativos tornarem os alunos competitivos diante de uma sociedade cada vez mais seletiva, a autora a partir de uma avaliação voltada para a observação individual do educando relata os progressos e os seus regressos, utilizando-se de relatórios que ultrapassem a função burocrática das instituições escolares e que possam expressar com objetividade e riqueza de significados os processos vivenciados por educadores e educandos.

A autora defende a ampliação de experiência em avaliação mediadora que possibilite a conquista de novas parcerias que defendam a mediação entre professores e alunos também no que diz respeito à avaliação, ela enfatiza que o significado da avaliação mediadora está centrado em prestar total atenção ao educando ou mesmo como relata a autora “pega no pé” do aluno mesmo, insistindo em conhecê-lo melhor, buscando um diálogo constante.

Há diferentes maneiras de o aluno compreender o professor, a matéria, o que a escola lhe pede, há diferentes maneiras de o professor compreender o aluno pelo seu maior ou menor domínio em determinadas áreas... é preciso observar e refletir. (HOFFMANN, 2003:68)

Considerando necessárias as mudanças nas práticas avaliativas, a autora questiona que um dos maiores entrave é a resistência à mudança nessas práticas por parte dos educadores e pais de alunos, que muitas vezes valorizam demasiadamente os processos quantitativos em detrimento dos qualitativos.

Já Celso dos S. Vasconcellos em seu livro A avaliação da aprendizagem: Práticas de mudança – Por uma práxis transformadora, a avaliação da aprendizagem ganhou ênfase na década de 60 em função do avanço da reflexão crítica que aponta os enormes estragos da prática classificatória e excludente: os índices de reprovação e evasão escolar. Mais recentemente, a avaliação está em pauta no sentido de reverter este quadro de fracasso escolar.

Para mudar a avaliação não basta articular um discurso novo, não adianta ter uma nova concepção e continuar com práticas arcaicas. O que altera a realidade é a ação e não as elucubrações mentais; é através de sua atividade que o sujeito deixa sua marca no mundo. (VASCONCELLOS, 1956:25)

Portanto, podemos observar que não se pode atribuir o fracasso escolar do educando exclusivamente a ele, sem questionar a prática avaliativa dos educadores envolvidos no processo avaliativo.

Objetivo geral: Aprofundar conhecimentos através de pesquisa dos processos relativos à sistemática da avaliação, buscando conhecer a sua relação para com o desempenho ou êxito escolar do aluno.

Objetivo específico: compreender como os processos avaliativos, acontecem e sua contribuição no êxito ou no fracasso escolar do aluno

Perspectiva Metodológica:

Será feita uma abordagem qualitativa que tem características não estruturadas, é rica em contexto e enfatiza as interações visando à coleta de informações.

Buscando conhecer como se processa a sistemática da avaliação no ensino aprendizagem e suas contribuições, ou mesmo os impasses para a construção do saber do educando, utilizarei a analise das práticas dos professores a respeito da avaliação no espaço da sala de aula, partindo para um trabalho de campo através do contato com o objeto de pesquisa, aproximando desta forma, a temática abordada a um contexto real da práxis.

A pesquisa de campo será realizada em salas de 3ª e 4ª series do ensino fundamental, tendo como sujeito de pesquisa os alunos e professores. Quanto às atividades a serem desenvolvidas, farei observação em sala de aula, leitura do planejamento e da avaliação, entrevistas ou questionários aplicados aos educadores tendo como finalidade a coleta de dados, observação e acompanhamento aos alunos que na visão do educador não obteve o êxito escolar pretendido.

Referências:

LUCKESI, C.C. Avaliação da aprendizagem escolar: estudo de proposições. 11 ed. São Paulo: Cortez, 2001.

VASCONCELLOS, C. dos S. Avaliação da Aprendizagem: práticas de mudança por uma práxis transformadora. 5. ed. São Paulo: Libertad, 2003.

HOFFMANN, J. Avaliação na Pré-escola: Um olhar sensível e reflexível sobre a criança. Porto Alegre: ed. Mediação, 1996.